26 de janeiro de 2014

O pintor David e a Revolução Francesa

A pintura de David e a Revolução Francesa - Uma apresentação do livro de Dorothy Johnson, “Jacques-Louis David – Art in Metamorphosis”, Princeton, Princeton University Press, 1993, em http://press.princeton.edu/titles/5324.html, acessado em maio de 2012, observa que esse pintor, considerado epítome da arte da Revolução Francesa, mostrou já, em “O Juramento dos Horácios”, quadro pintado ainda antes da Revolução, uma capacidade de inovação desafiadora em relação ao estilo rococó dominante durante o século 18, ao enfatizar a representação psicológica envolvendo o corpo todo, ao invés de apenas o rosto, como na estética tradicional em seu tempo. O livro discute também como David aproveitou, na pintura, a teoria e a linguagem da escultura. Diz ainda a apresentação: “Dada a interação de David com muitas das figuras públicas de seu tempo, inclusive Diderot, Marat e Napoleão, esse livro ilumina o conteúdo intelectual de suas pinturas durante toda a sua carreira. Investigações sobre a transformação da matéria, a evolução das espécies, a identificação e a exploração dos estágios na formação do eu, a psicologia do mito, o modelo biológico do desenvolvimento e da decadência das civilizações, e a organicidade da história, tudo isso acompanha e informa a abordagem de David em relação à arte e à sua visão de si mesmo no continuum da história.” Assim, o livro apresenta David como mais do que um simples neoclássico, como tradicionalmente é considerado; na verdade ele é visto “como um elo importante no desenvolvimento do romantismo”. Aqui temos mais uma vez de notar que, na prática, a teoria é outra. O romantismo tanto pode ser visto como uma nostalgia dos tempos pré-modernos, da vida idílica que teria ocorrido em tempos distantes, até mesmo como uma nostalgia do próprio Antigo Regime, como fica mais claro no escritor Chateaubriand, como pode ser visto na qualidade de precursor de um futuro melhor tanto do que o presente como do que o passado, como uma revolta contra as condições mesquinhas a que o Antigo Regime e mesmo sua modernização tinha reduzido grandes massas da população, como fica claro na arte romântica que cantou as revoluções de 1848 e de 1870. David ficaria a meio caminho disso, o passado a que aspira retornar não é o passado idílico e rural que muitos românticos queriam recriar, particularmente não é o passado medieval. O pintor David aspira, como muitos revolucionários franceses, a um restabelecimento da vida digna e austera dos tempos clássicos da democracia grega e dos tempos virtuosos da República em Roma. Por outro lado ele aspira ao futuro, com a coroação da deusa Razão e os grandiosos cerimoniais que consagravam a Revolução Francesa e sua expansão pela Europa e por todo o mundo, para ele, civilizado. Nascido em 1748, David já tinha 41 anos quando se iniciou a Revolução. Homem maduro, entusiasmou-se com Robespierre e ficou amigo de Marat, sobre cuja morte por assassínio criou uma de suas obras mais emotivas. Por suas amizades com esses dois líderes radicais, no refluxo revolucionário ficou alguns meses na prisão. Reconciliou-se, porém, com as novas autoridades que impuseram limites plenamente burgueses à Revolução, a ponto de se ter tornado o pintor oficial de Napoleão. Aos grandes artistas, como David, se reconhece o direito de, para continuar criando, sobreviver política e existencialmente seja a que preço for, o que não se reconheceria, por exemplo, a um líder político.

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