27 de janeiro de 2014

Guias turísticos e imperialismo

Os guias de viagem do século 19 como expressão do imperialismo cultural - Em http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=i54UEQoLjcAC&oi=fnd&pg=PA19&dq=%22cultural+imperialism%22+%2219th+century%22&ots=xhCJEyvBmW&sig=JLDeY2-iSGP1rhAeIKeruorB9_Y#v=onepage&q=%22cultural%20imperialism%22%20%2219th%20century%22&f=false, acessado em maio de 2012, está o livro “Histories of Tourism: Representation, Identity and Conflict”, editado por John K. Walton, Channel View Publications, Tonawanda, Estado de Nova York, EUA, 2005. No primeiro capítulo, “Impérios de Viagem: Guias Britânicos de Viagem e Imperialismo Cultural nos Séculos 19 e 20”, o pesquisador John Mackenzie afirma que muitas vezes não se leva em conta que impérios como o britânico eram também “impérios de viagem”: Esses impérios “eram também salões de recreação para os muito ricos ou os meramente confortáveis. Eram lugares em que podiam ser exploradas várias formas de herança cultural. Tanto quanto proporcionavam locais para a expansão da Cristandade, a suposta elaboração de um propósito divino e evangélico, também proporcionavam a melhor prova do progresso, a filosofia burguesa definidora daquela era. Demonstravam nitidamente a marcha para a frente do modernismo, particularmente como era expressada pela difusão do vapor, o telégrafo, o sanitarismo, o urbanismo, e a ciência e a medicina ocidentais. Nos impérios europeus, os viajantes perseguiam um propósito essencialmente esquizofrênico. De um lado, pareciam buscar outras culturas, tanto do passado como do presente, outros climas, outras paisagens, outras flora e fauna, às vezes outra moral; de outro lado, os viajantes também mapeavam a confortadora extensão do que viam como suas próprias conquistas e seus próprios valores. “ Em outras palavras, os viajantes que, a partir das metrópoles, procuravam visitar os mais remotos rincões de impérios como o britânico, estavam plenamente imbuídos de sua “superioridade cultural” e viam os povos submetidos como “povos primitivos” que deveriam ser educados nos caminhos da civilização. Não se preocupavam em questionar se esses povos eram mais ou menos felizes antes ou depois de terem tido contato com invasores e ocupantes ocidentais. A própria “vitória” dos impérios ocidentais em outros continentes era vista como advinda de uma suposta “superioridade cultural”, “moral”, ou “racial”, ou à “superioridade do cristianismo em relação às outras religiões”, quando na verdade o grande fator que levou à tardia vitória dos impérios ocidentais em regiões como a China e o interior da África foi basicamente a invenção, pelo Ocidente, em meados do século 19, das armas de repetição. Até ali as armas ocidentais não eram superiores às armas de africanos ou chineses. Se houve uma “superioridade ocidental”, foi estritamente militar – e mesmo nesse caso não se tratava de superioridade estratégica ou tática, simplesmente uma tardia superioridade em armamentos. No entanto, os guias de viagem dos tempos imperiais britânicos respiram essa atmosfera de “superioridade cultural”. Diz Mackenzie: “A análise dos guias indica que eles eram dirigidos a uma ‘comunidade imaginada’ imperial branca que era global na sua extensão. Implícita em suas páginas estava a noção, propagada assiduamente por figuras como John Buchan e J.A. Cramb, de que o imperialismo constituía um antídoto contra o nacionalismo. (...) Na verdade, o mito central desses guias é de que havia uma supranacionalidade anglófona que abrangia o mundo por meio da viagem e dos cronistas de viagens.” Era a ideia de que, enfim, o Império estava assegurando a “paz eterna” entrevista pelo filósofo alemão Immanuel Kant, um dos pilares do Iluminismo. Não se levava em conta que, na verdade, essa paz era, para os povos dominados, uma paz de cemitério.

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