1 de abril de 2012

O racismo em Marx e Engels

Recentemente a revista Caros Amigos publicou o seguinte artigo meu:

Ca175ideias



Ideias de Botequim



Marx e Engels,

racistas?



O que teria levado Engels a escrever, num artigo de 1849, que entre todos os povos do Império Austro-Húngaro “há apenas três que foram portadores do progresso, que desempenharam um papel ativo na história e que ainda conservam a sua vitalidade: os alemães, os poloneses e os húngaros. Por essa razão eles agora são revolucionários. A vocação principal de todas as outras raças e povos, grandes e pequenas, é de perecer no holocausto revolucionário”, e a postular, em carta a A.H. Starkenburg, “vemos nas condições econômicas o que, em última instância, condiciona o desenvolvimento. Por si mesma, no entanto, a raça é um fator econômico”? E por que Marx não só achava que a classe operária “germânica” da Alemanha era superior, por exemplo, à classe operária francesa, como também exaltou todas as revoluções que aconteceram no século 19 na Europa, mas não mencionou nenhuma vez a revolução haitiana, em que os escravos negros derrotaram as tropas francesas, acabaram com a escravidão e se instauraram como povo independente? Segundo o livro “O marxismo e a questão racial – Karl Marx e Friedrich Engels frente ao racismo e a escravidão”, do intelectual cubano Carlos Moore, septuagenário que saiu de seu país nos anos 1960 e está radicado na Bahia, depois de ter vivido em vários países das Américas, Europa e África, tendo sido em Cuba  acusado de trabalhar para a CIA e condenado por isso, embora tenha lá voltado para se tratar de câncer, nos anos 1990, tudo isso se deve a que Marx e Engels não estiveram alheios às concepções racistas vigentes em sua época entre os “cientistas sociais” europeus.

O livro, com prefácio do professor de Filosofia, formado na PUC de São Paulo, Ricardo Matheus Benedicto – que em recente palestra no Centro Educacional Claretiano, na capital paulista, defendeu a tese de que o que considera falhas de Marx e Engels não devem servir de pretexto para atacar as contribuições fundamentais de ambos – foi lançado no Brasil pela Editora Nandyala e pelo Cenafro-Centro Nacional de Estudos e Políticas de Igualdade na Educação. Moore, que foi acusado também de ligações com o líder direitista angolano Holden Roberto, o que ele nega veementemente, diz lutar contra o racismo em Cuba, país que segundo ele contaria com uma maioria de pretos e mestiços mas que, segundo Benedicto, citando um documento oficial cubano de 2007, conta com apenas 3 por cento de negros entre seus estudantes universitários e em que 68 por cento dos brancos cubanos não aceitam casamentos inter-raciais e 58 por cento deles consideram que os negros são “menos inteligentes” do que os brancos.  Meios cubanos, entretanto, defendem a tese de que o racismo desapareceu em Cuba, porque era uma arma do capitalismo para dividir os trabalhadores e, com o fim do capitalismo, perdeu suas bases materiais e deixou de existir.

No Brasil, também há a discussão a respeito do bem disfarçado racismo existente no País. Há intelectuais e militantes, tanto negros como brancos, defendendo teses opostas, segundo as quais a questão racial seria uma mera derivação da questão de classes ou, ao contrário, haveria uma questão racial específica, a ser combatida por si só.

Ainda dentro dessa questão, um dos maiores intelectuais brasileiros, Luiz Gama, filho de uma escrava africana e do seu “dono” português, teve textos seus, organizados pela pesquisadora Lígia Fonseca Ferreira, editados pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, no livro “Com a palavra, Luiz Gama – poemas, artigos, cartas, máximas”. Exemplos: “A escravidão é uma espécie de lepra social: tem sido muitas vezes abolida pelos legisladores e restaurada pela educação sob aspetos diversos”, “A humildade e a escravidão nasceram gêmeas e foram cautamente educadas pelo Catolicismo”. Finalmente, temos os “Cadernos negros – volume 33 – Poemas afro-brasileiros”, editado pelo Quilombhoje. São poemas de 24 autores brasileiros, entre eles Cuti, Elizandra Souza, Flávia Martins e Jairo Pinto.

Outros livros importantes incluem “Porecatu, a guerrilha que os comunistas esqueceram”, do jornalista Marcelo Oikawa, editado pela Expressão Popular. Na passagem dos anos 1940 para 1950, no Norte do Paraná, três mil posseiros, animados pelo chamado Manifesto de Agosto do Partido Comunista, que pregava a luta armada, e pelo exemplo de Mao Zedong na China, se empenharam num conflito armado em que foram derrotados, mas que serviu de inspiração para a instauração de Ligas Camponesas no Paraná e, depois, no Nordeste; seus quadros, vencidos na luta armada, passaram a atuar na construção do sindicalismo rural no Paraná e da fundação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, a Contag, em 1963.

Também vale a pena ler “Indignai-vos”, publicado pela Leya, em que o veterano da Resistência francesa contra os nazistas, Stéphane Hessel, protesta contra o que considera traição, pelos governos neoliberais, de todos os ideais de justiça pelos quais os resistentes lutaram tantas décadas atrás. Em vários países, esse livro já vendeu mais de 3 milhões de exemplares. Finalmente, para que não falte a ficção, temos “O País das Mulheres”, Editora Verus, em que a romancista nicaraguense Gioconda Belli descreve um país fictício em que o Partido da Esquerda Erótica toma o poder.



Renato Pompeu é jornalista e escritor.

WWW.renatopompeu.blogspot.com

rrpompeu@uol.com.br






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